Conteúdo discutido neste post
O que é a sífilis e por que falar disso agora
Como se pega: beijo, sexualidade e sexo oral
Sintomas por estágio: primária, secundária e terciária
Latência, neurossífilis e sífilis congênita
Testes: quando fazer, janela imunológica e falsos positivos
Tratamento: regimes simples e seguimento
Prevenção e cuidados com parceiros
FAQ rápido
Aviso importante (disclaimer de saúde)
Referências e leituras recomendadas
O que é a sífilis e por que falar disso agora
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. Tem fases bem definidas, pode ficar silenciosa por longos períodos e retorna de forma mais grave se não for tratada. O ponto central para levar daqui: a sífilis não passa sozinha. Sem tratamento, ela progride, pode comprometer coração, cérebro e nervos, e causar complicações em gestantes e bebês.
Como se pega: beijo, sexualidade e sexo oral
A transmissão ocorre por contato direto com lesões infecciosas nas mucosas ou na pele. Isso inclui relações sexuais vaginais, anais e também sexo oral. É possível adquirir sífilis exclusivamente por oral-genital se houver lesão na boca, nos lábios, na garganta ou nos genitais do parceiro. Beijo pode transmitir quando há lesão oral ou mucosa ativa. Também há transmissão vertical na gestação se a mãe estiver infectada e não for tratada.
Preservativos e barreiras (camisinha externa ou interna e dental dam) reduzem o risco, mas não o eliminam completamente, pois lesões podem estar em áreas não cobertas. Evitar relações durante surgimento de feridas e procurar avaliação precoce reduz muito a transmissão.
Sintomas por estágio: primária, secundária e terciária
A evolução clínica varia, mas existe um roteiro típico.
Sífilis primária
Geralmente aparece entre 10 e 90 dias após o contato. Forma-se o cancro duro, uma úlcera única, firme, de bordas regulares, em geral pouco dolorosa, no local de entrada da bactéria (genitais, ânus, boca). Gânglios próximos costumam aumentar. Mesmo sem tratamento, a ferida cicatriza em semanas, o que dá a falsa impressão de “cura”. A infecção continua no corpo.
Sífilis secundária
Semanas a meses depois, a bactéria já circulou e surgem manifestações sistêmicas: rash difuso que muitas vezes pega palmas das mãos e plantas dos pés, condiloma plano em áreas úmidas (lesões semelhantes a verrugas, altamente contagiosas), placas esbranquiçadas na mucosa, queda de cabelo em “clareiras”, febre baixa, mal-estar e linfonodos aumentados. Esse quadro melhora, mas a doença persiste.
Sífilis terciária
Anos depois, se não houver tratamento, pode atingir órgãos profundos. Destacam-se:
Cardiovascular: aortite sifilítica com risco de dilatação e insuficiência da aorta.
Gomas: lesões granulomatosas em pele, ossos e vísceras que podem destruir tecido.
Neurológica tardia: alterações cognitivas e comportamentais, distúrbios de marcha e dor por acometimento de medula e nervos.
Esse estágio é sério e pode deixar sequelas permanentes. A mensagem é clara: diagnosticar e tratar cedo evita a fase terciária.
Latência, neurossífilis e sífilis congênita
Após a fase secundária, a infecção entra em latência: não há sintomas, mas os testes continuam reagentes. A latência pode ser recente (menos de um ano) ou tardia (mais de um ano). A neurossífilis pode ocorrer em qualquer fase, inclusive precoce, causando meningite, uveíte, perda auditiva, alterações visuais e parestesias. Em gestantes, a infecção não tratada pode resultar em sífilis congênita, com abortamento, natimorto, prematuridade ou doença grave no recém-nascido. Por isso existe rastreamento na gestação e tratamento imediato quando necessário.
Testes: quando fazer, janela imunológica e falsos positivos
Os testes se dividem em não treponêmicos e treponêmicos.
Não treponêmicos: VDRL e RPR. São quantitativos e servem para diagnóstico inicial e acompanhamento (o título numérico cai com o tratamento).
Treponêmicos: ensaios como EIA/CLIA, FTA-ABS e TP-PA. São qualitativos e confirmam a exposição. Tendem a permanecer reagentes por muitos anos.
Quando testar
Teste diante de úlcera genital, rash suspeito, linfonodos aumentados sem explicação, exposição sexual de risco, parceria com diagnóstico de sífilis e gestação (triagens seriadas). Após uma exposição recente, existe janela imunológica: pode levar duas a seis semanas para o organismo produzir anticorpos detectáveis. Se o teste inicial vier negativo e a suspeita for alta, repita em 2 a 4 semanas ou conforme orientação médica.
Falsos positivos e outras pegadinhas
Não treponêmicos podem dar falso positivo em situações como gravidez, doenças autoimunes, infecções virais e até pós-vacinal. Por isso se confirma com teste treponêmico.
Pode haver falso negativo por efeito de prozona (título muito alto que impede a reação). Laboratório experiente dilui a amostra para checar.
Pessoas previamente tratadas podem permanecer com teste treponêmico positivo por anos. Nesses casos, o que guia é o título do VDRL/RPR e a história clínica.
Tratamento: regimes simples e seguimento
O tratamento é simples e altamente eficaz, especialmente nas fases iniciais.
Sífilis recente (primária, secundária ou latente recente): penicilina benzatina 2,4 milhões de unidades intramuscular, dose única.
Latente tardia ou duração desconhecida: penicilina benzatina 2,4 milhões de unidades IM, uma vez por semana, por 3 semanas.
Neurossífilis e sífilis ocular/ótica: penicilina G cristalina intravenosa em regime específico.
Alergia à penicilina: opções como doxiciclina podem ser usadas em não gestantes, porém a penicilina é o padrão ouro. Em gestantes com alergia, recomenda-se dessensibilização para tratar com penicilina.
Pontos práticos:
A reação de Jarisch-Herxheimer pode acontecer nas primeiras 24 horas após a primeira dose. É febre, calafrios e mal-estar transitórios. Alerta, mas não é alergia.
Oriento abstinência sexual até que lesões estejam cicatrizadas e pelo menos 7 dias após a dose.
Acompanhe títulos de VDRL ou RPR em 6 e 12 meses para verificar queda de pelo menos quatro vezes(exemplo: de 1:32 para 1:8). Falha de queda ou aumento sugere reinfecção ou necessidade de nova avaliação.
Parceiros(as) dos últimos 3 meses a 1 ano (a depender do estágio) precisam ser notificados e testados. Tratar a rede de contatos evita ping-pong de infecção.
Prevenção e cuidados com parceiros
Barreiras em todas as práticas sexuais, inclusive sexo oral com dental dam ou camisinha cortada como barreira improvisada quando necessário.
Testagem regular para ISTs se você tem novos parceiros ou está em relacionamento não monogâmico.
Conversar sobre sintomas, exposição recente e combinar quando suspender atividade sexual diante de lesões ou pródromos.
Gestação: cumprir o calendário de triagens e tratar imediatamente se houver diagnóstico.
FAQ rápido
A sífilis melhora sozinha?
Não. Lesões iniciais podem cicatrizar, mas a bactéria permanece. Sem tratamento, a doença progride.
Posso pegar sífilis só com sexo oral?
Sim. O contato oral-genital com lesões ou mucosas infectadas transmite.
Tive um teste positivo e outro negativo. Qual vale?
Os testes têm funções diferentes. Um resultado isolado não conta a história completa. Confirmar com teste treponêmico e avaliar o título do VDRL/RPR com seu médico é o caminho.
Sou alérgico a penicilina. E agora?
Existem alternativas para não gestantes. Em gestantes, a penicilina é o padrão e pode ser feita dessensibilização.
Depois de tratar, posso me infectar de novo?
Sim. O tratamento não confere imunidade. Prevenção e testagem continuam importantes.
Aviso importante (disclaimer de saúde)
Este conteúdo é educativo e não substitui consulta médica. Para diagnóstico, tratamento e seguimento individualizados, procure avaliação profissional. Em gestantes, o manejo é prioritário para prevenir sífilis congênita.
Como a VirtualCare pode ajudar
Nossa equipe de infectologia, ginecologia e clínica médica orienta testagem adequada, interpreta títulos de VDRL/RPR, prescreve tratamento eficaz e organiza o seguimento com reavaliação de títulos. Também apoiamos notificação de parceiros e discutimos estratégias de prevenção ajustadas ao seu contexto.
Referências e leituras recomendadas
CDC. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines: Syphilis.
WHO. Guidance on syphilis screening and treatment in pregnancy and general population.
PAHO/OPAS. Elimination of mother-to-child transmission of syphilis: recommendations.
Cochrane Reviews. Antibiotic regimens for early and late syphilis.
ECDC. Syphilis surveillance and public health guidance.
Sociedades nacionais de infectologia e gineco-obstetrícia. Diretrizes para rastreamento e manejo na gestação.


